Pra Versejar uma Ausência

Alcindo Neckel e Luis Lopes de Souza
                

Um céu longe multicor estende o véu da aurora no meu olhar já sem cor... trazendo imagens vagas que no doce da lembrança já se tornaram amargas! ... a impressão ilusória de um anjo irreverente se apagou no horizonte entre as mágoas do poente! A musa partiu no breu sem refletir um luar! Sem resgatar um luzeiro pra o consolo do olhar! Os revoltos temporais premeditaram distâncias no sopro do nunca mais... - Partiu, num outono lindo! Tal qual uma folha seca que se faz triste caindo... foi levada pelo vento buscando a independência, aventureira no tempo pra não viver de aparências... No coração sem lamentos restou uma pedra dura disfarçando sentimentos. ... pra versejar uma ausência segue esta vida teimosa, inspirando rancorosa uma guitarra a esmo, que insiste entoar milongas nos acordes de mim mesmo! O arrebol pinta distâncias nos longes de uma saudade, de alguém que se fez esquiva da mera felicidade... mas, no abismo do futuro mesmo num mar em perigo voltará pedindo abrigo no velho porto seguro...! Já fui o canto das águas pra ninar uma sereia...! Já fui um lobo chorando preludiando a lua cheia...! ... hoje meus deuses profanos testemunham mesmo inquietos o submundo secreto de meus delírios insanos...! ... se amar fosse pecado blasfemar seria lindo...! e no calvário sem pressa eu subiria sorrindo... daria graças à dor já que as chagas são sagradas no inferno de um pecador...! Meu universo voraz me sugere mil quimeras eternizando uma espera embora vaga e fugaz! ... observo um passarinho sem espaço e sem ninho asas feridas já mortas, numa louca revoada campeando o rumo de volta...! Na escuridão mais oculta uma vida sem razão vai resgatando luzeiros nas trevas do coração... transcendendo esta saudade que me persegue em segredo vou enfrentando sem medo fantasmas da realidade... Ah...! Se o coração tivesse chave com liberdade eminente não haveria tristeza reclusa na incerteza morando dentro da gente...! Não estaria solito na carência de um abraço alimentando o fracasso no silêncio do meu grito...! A vida vira suas páginas com linhas rudes e tortas, mas não descreve as verdades de uma alma quase morta! ... qual personagem demente já sem razão no contexto por certo morri no texto, ponto final... simplesmente! ...as brasas se apagaram nas suas vestes de cinzas, restaram memórias poucas sobreviventes ainda....! Se retornares um dia só encontrará um vazio, e na lápide da história a inscrição já sem glória de quem também já partiu!!!