Escora o peso do mundo, Com ombros de imensidão... Tesoura, caibro, oitão, Telhado, quincha e morada... Palanque onde a madrugada, Feito uma bugra charrua, Debruça o corpo de lua Despida, em pele de prata, Como a enfeitar serenatas Pros olhos da estrela nua. Esteio é sustentação Nas lidas de ronda e tropa... É o couro firme da bota Pros papagaios da espora, Onde a roseta sonora Abriga o canto dos grilos... Esteio é o loro e o estribo Firmeza do homem campeiro Que no garrão sul-brasileiro É esteio que segue vivo. Esteio é o amadrinhador Pra poema e gineteada, Pois tem a vida agarrada Com pulsos de devoção Entregando o coração Sempre para o bem do outro O amadrinhador traz um pouco Da mesma alma da gente: Harmonizando o que sente, Livrando os golpes de um potro. Esteio é paz e aconchego Luzeiro até de um pagão Que sem aguentar o tirão, Pois nunca soube rezar, Silente vai encontrar O que nem bem conhecia... Esteio é cura e magia, Alívio de chaga e dor, Pois quem procura o Senhor Encontra a fé em poesia. Esteio é rumo de estrada Pra colo e beijo materno, É pai que não foi eterno Pela ausência que hoje chora... Saudade que não se atora No fio de tantos conselhos Vindos na ponta do relho Ou no calor do abraço. Esteio é o que estreita os laços Deixando os lados parelhos. Esteio também é a Dalva Na noite de lua nova Escuridão que comprova Que às vezes somos pequenos, Pois basta cair o sereno Pro campo virar um mundéu E só quem conhece o céu Mesmo estando sozinho Sabe encontrar o caminho: Basta sacar o chapéu. Esteio é a voz do amanhã Num rastro que é seguimento... Rodeio de sentimento, Tropilha em pelo esperança... É o sinuelo pra criança, Sendeiro para uma um bom trilho É luz que redobra o brilho... É a porta aberta das casas E o sonho que ganha as asas Com o timbre novo de um filho. Esteio é o verso em que habito... É a minha alma que sangra No escarlate que abranda O tinto destas saudades De onde brotam verdades Que estavam escondidas E que na inconstância da vida Na solidão me consolam... Quando simplesmente afloram Pra me trazerem guarida. Esteio é charla de amigo Nos mates de mano a mano No ritual cotidiano De compartir soledades. Esteio em si é a verdade No rancho do coração Tesoura, caibro e oitão De um universo fecundo Que escora o peso do mundo Com ombros de imensidão!