O Gato

Luis Lopes de Souza
                

Gato preto é mau presságio malgrado na sexta feira, é o “coisa ruim” disfarçado rondando a lenda crendeira... As cismas se precipitam num eco em convulsão na alma bruxa do gato que há mil anos ladra um cão... Com aprumo no perfil macabro relapso e desconfiado, foge!! E o vulto negro se esgueira na cumeeira do telhado... do mirante negaceia o velho cusco que é birrento, implicante, um oponente que a ironia os força viverem juntos... Alarmado esbraveja o velho cão “matraqueando” no baldrame do oitão, mas o gato se deleita sem alarde cusco é bicho e, por bicho, é seu irmão... Sim, o gato! O gato que na urgência da fome se transforma em primitivo felino imprevisto e indomável pelo homem... O gato por instinto se supera faz descaso ao regaço da madame se faminto a verá por ratazana e agirá com garras ágeis de fera...! O gato se refletido no espelho, foge!! Por certo se acha feio desconforme, desmedido, desparelho, ofusca sua mirada o próprio brilho que reluz em demasia em seu pelo, que, por preto, arrogante e agourento causa medo a si mesmo, certamente, refletido nos mistérios do espelho... O gato esquivo da própria fama é intruso no aconchego das alcovas espionando inocente sob a cama, e decifra, mui atento, os gemidos dos humanos que por luxúria se amam... O gato, que por ser bicho procria, mas aguarda com paciência a sua amante, e acasala qual um bárbaro valente na silente madrugada delirante... o namoro mais parece um embate e o cusco “rusgarento” uiva e late mas não ousa chegar perto do romance... O gato desliza manso no dorso faz um remanso passos macios e destreza, amarra sutil a presa num retovo sorrateiro, campeando o momento exato pra agir com fúria de gato dando seu pulo certeiro... O gato dávolteios no intento desafia o abismo contra o vento e analisa o próprio baque na caída... e se joga por arisco e audacioso na escalada do fortim mais perigoso muito embora arriscando as sete vidas... Sim, o gato! O gato traz o mapa das matas rascunhado nas pupilas e nas patas, gato nato no arrojo de bichano... com o porte de indelével soberano olha o homem com desdém quando ele erra ignora as desavenças e guerras e tem pena da idiotice dos humanos... ............................. O gato do qual eu falo é um fato existiu e foi meu na minha infância, mas jamais permitiu tocar-lhe a mão foi um gato de telhados e galpão espreitando o reboliço da estância... Mas morreu enfim, e ninguém viu, numa noite enluarada e excitante, por sua gata reclusa na casa grande esbanjando tentação em pleno cio... O gato, relevante pecador, morreu de paixão por ela arranhando a vidraça da janela vendo a gata implorando o seu amor!