Dos Meus Silêncios

Matheus Lampert
                

Talvez sejam esses silêncios... os caminhos que levam ao meu coração, transcendendo o tempo que cruza as horas... viajeiro – no tranco dum pingo de bom cômodo. Um pingo destes que encilho sonhos... para recorrer invernadas largas e bem empastadas. Povoadas de gado alçado, sem qualquer cerca ou aramado, sem porteiras ou tramelas... que são lindeiras apenas da alma. ………. Talvez sejam esses silêncios... que me falam aos olhos e não aos ouvidos ... por onde ‘vejo’ meu mundo em uma toada calma feito o sol que vem destapando a coxilha por cima do mato. Num amanhecer que chega para renovar esperanças... na geada branca que forma uma fina camada de gelo sobre a sanga ou pelo mormaço que vem esquentando o dia para o embate da lida bruta nesses confins de pampa, onde homem e campo se mesclam numa só infusão. ………. Talvez sejam esses silêncios... que dão sentido aos aromas de mate recém-cevado por onde viajo distâncias em pensamentos que voam longe... para reencontrar nacos de mim mesmo... nalguma tapera vestida de sombras. Com a calma e a mansidão dos fundos de campo... seus murmúrios de mato e sanga, das cigarras que cantam os verões das mutucas e quero-queros que alardeiam quem cruza ao tranco quebrando a paz da sonoridade que meus silêncios conhecem em suas solidões. ……..... Talvez sejam esses silêncios... que rondam as noites feito a insônia de um tropeiro... contando estrelas e indagando à lua os destinos que o corredor tem, enquanto ela – clara e inerte – se banha num lagoão que mata a sede da tropa. Ressojada bem-vinda pra quem de dia foi estrada... nos aboios da culatra... nos retovos de um zaino de bocal no fiador e no ponteiro: maestro dessa orquestra que se arrasta lenta no seu rastro marcado pelo compasso da ancestral ciência que o campo ensina do seu jeito. Talvez sejam esses silêncios... que embalam fins de tarde de garoa fina, em que a trança garrou forma nalgum remendo... com tentos bem tirados da lonca de algum sem sorte. Ofício em que o couro renasce para novas serventias e pela mão do campeiro arrocina as baldas de um refugador... que ganhador de horizontes busca o destino dos livres e sem doma... mas logo se assoma na armada cerrada - prisão dos que não se governam. …………..... Talvez sejam esses silêncios... de tranco e trote, troca de orelha e final de lida... que rondam as ‘casa’... fumaceando ao longe estufa e fogão esperando arreios povoarem cavaletes que cruzaram a manhã vazios. Esporas colgadas nos ganchos do galpão da encilha... botas marcadas de suor... tentos e da graxa das estriveiras alpargatas surradas, gastas de arrastar seus lamentos nas pedras e um rádio de pilha que mata o silêncio e dá vida à roda de um mate novo. ………...... Talvez sejam esses silêncios... que indiferentes aos sons da lida e das ‘casa’, seguem comigo tranqueando as horas em que paro meu mundo e pensativo... transponho meus muros para estradear outras querências. Antigas lembranças, algumas saudades guardadas... naquela velha mala que trouxe bem mais que meus cacos trouxe um pedaço de vida... pra que não ficasse lá... solita e esquecida pra que seguisse meus passos e comigo fosse de tiro na forma de um recuerdo. …………...... Talvez sejam esses silêncios... meus confidentes, conhecedores dos meus rumos aos quais não entrego palavras e tão pouco preciso explicações onde apenas d