Acharam Serafim morto, sangrando de solidão, Sexta-Feira da Paixão... Chora a tarde... Jaz o corpo. Num casebre de madeira, no arredor da cidade... Silenciou o arrabalde, enlutando a sexta feira. O seu cachorro ovelheiro velava o corpo, solito, como se esperasse o grito: De... “Vamu simbora, parceru”! Suicídio... Comentaram... Pois tinha um furo no peito! Solitário, sobre o leito... Foi assim que lhe encontraram. Triste a solidão de um homem campeiro, longe da lida... Quem perde a fome da vida, feito vela...se consome. Tinha cavalo e charrete, pingo que foi montaria... Magro, já sem serventia, nem parece o antigo flete. Num armário de parede, uma panela com fome... Na ferrugem se consome o balde louco de sede. Os pelegos encardidos, mango e laço ressecados... Um par de botas furado, marcado a ferro de estribos. Ficaram duas esporas com ganas de gineteadas, um chapéu aba quebrada pendurado numa escora. Sempre de bota e bombacha, lenço rubro no pescoço... Era bom jogando osso, melhor na cancha de bocha. Numa cova pra indigente de um cemitério afastado, o ovelheiro do lado, Serafim, se foi pra sempre. O baiozito ruano ficou pastando na volta... Estes dois vão sentir falta dos carinhos do seu Dono. Não virá nenhum parente nem padre pra extrema-unção: Serafim era pagão... A vida lhe fez descrente. Numa cruz feita a machado... - duas datas, nenhum nome - Ali jaz um pobre homem pelo campo abandonado. Pode ser que algum vivente cuide cavalo e cachorro, num derradeiro socorro pra quem partiu de repente. Pode ser que alguma china, destas meio sem juízo... Leve flor ao falecido n’alguma tarde esquecida. Era mais um exilado... Arrancado da raiz, para morrer, infeliz, numa vila... amargurado. Foi corajosa e brutal a morte deste sujeito... No cerne rude do peito... Escreveu: – Ponto final.