Não me Perguntes do Gaúcho Velho

Rodrigo Bauer
                

I Não me perguntes do gaúcho velho! Do lenço branco a esvoaçar no vento... Há a nossa essência no seu testamento e, em sua obra, algo de Evangelho! Na geografia do seu epitélio, se abriram vergas pelo arado lento que o tempo arrasta, sem remordimento, por meridianos, homens e hemisférios! Foi o vaqueano, o campeador, o guia do gauchismo e da filosofia que a nossa gente chama de consciência... Um nome clássico da Poesia, guardião da velha tradição bravia, que ele espalhou por todas as querências! II Não me perguntes do gaúcho inquieto! Ele há de estar com o Rillo e o Aureliano, com o Retamozo, o Glaucus, o Caetano, entre o Tocaio, o Lessa, o Vargas Netto... De pau-a-pique, Santa-Fé ou concreto, ele deixou, mesmo no mais urbano, um galpãozito todo interiorano dentro do peito, a compreender, discreto A construção da origem, os seus veios de terra santa e água de rio cheio, do barro heroico à alma do tijolo! No cavalete, dorme um par de arreios... e o seu legado há de servir de esteio, sustento eterno do Galpão Crioulo! III Mas ouve o canto do Rio Grande inteiro! Tal um responso de respeito à História do baluarte e sua trajetória, do gauchesco sábio brasileiro! Não me perguntes mais do Cavaleiro... Ganhou a Paz que vive na memória, campeando um rastro de paixão e glória para invernar num fundo de potreiro! Embora, é certo que ninguém o veja, eu faço ideia, donde, agora esteja: no céu campeiro lá de Aldebarã... E, vez por outra, quando pestaneja, na madrugada, o seu olhar goteja uma garoa no Ibirapuitã!