Sem Lenço

Rodrigo Bauer
                

Vem um pescoço sem lenço pela Borges de Medeiros... Ele sobe o viaduto e envereda ao Palácio... Seu tetravô gasparista vem em seu sangue de herdeiro, mas ele nem sabe disso, pois esquecer é tão fácil! Quando passa pela casa nem mesmo olha pra trás, mas sente um vento gelado que lhe castiga o pescoço... A alma do Castilhismo, que ainda clama por paz, tenta levar o passado ao tempo daquele moço! Vai um pescoço sem lenço na frente da Catedral, avança o passo apressado, cruzando o Piratini... É jovem, nem sabe o quanto o lenço é fundamental na história que o próprio tempo antecedeu para si! Não sabe o moço sem lenço, lá na Praça da Matriz, das guerras e escaramuças que sacudiram o Estado; travadas nos gabinetes, em movimentos sutis, ou na coxilha sangrenta que não sabia do arado! Há poucos dias, o jovem andou no Parque de Esteio, viu a pecuária pujante... Lenços demais ele viu... Nem se deu conta, por certo, que, iniciando o passeio, leu no Portão da chegada o nome de Assis Brasil! Vão milhares de pescoços sem o matiz do “pañuelo”, que sabem nomes de praças, mas nada mais desses nomes... Gente que corre em silêncio, vivendo num atropelo, dos quais, o veio e a essência, o cotidiano consome! Assim, os homens sem lenço vão continuando essa história, sem lenço ou identidade, sem norte e sem ideal... Uma legião de “sem lenços” logo será sem memória, dela se enchem os campos e as ruas da Capital!