Três Rosas e um Cabaré

Joseti Gomes
                

Na casa velha e vazia não há sorrisos nem cores... Assombrações são constantes... Ausentaram-se os amantes e só restaram as três, na sala grande de festa do cabaré de um poeta... Entre o delírio das rosas que não enfeitam jardins, ilusões de um camarim na espera desses amores, que é tudo o que lhes resta... “Talvez a rosa mais rara, negra, em noites de verão... Com seus mistérios guardados, amor e ódio escancarados nos enredos da paixão... Cheguei sem nome e fiquei... Meu perfume despejei enquanto meus rastros ficavam impressos no chão dos pastos que a chuva vinha banhando... Ninguém, trazia comigo... Muitos, deixava pra trás... Mas nunca fui arrancada, sequer fui despetalada nas armadilhas que roubam as rédeas firmes que trago pra garantir meu sustento nesse mundo tão voraz...” “Nasci do amor da lua que se encantou pelo sol... E os dias choraram tanto que a lua por desencanto me abandonou e partiu... Por isso, eu sou rosa branca que se encanta na janela, e brinca com a inocência de não querer ser mulher... Mas quando as portas se fecham, e as luzes se fazem sol, eu sou a rosa sem medo, que escondendo seus segredos revela toda a magia dos encantos da poesia, de um luar sem cerimônia, batizado nos perfumes que escorrem pelos meus dedos...” “Mostro-me rosa inteira... E sem pousar nos retratos de boa moça sorrindo, eu sou a rosa sofrida, a rosa que a própria vida moldou à sua maneira e decorou com espinhos, pra garantir a certeza de ser pão na tua mesa, de ser cálice de vinho... Já fui tingida de sangue, porque pisaram nos sonhos que eu cultivei por amor, num jardim de esperanças de um dia, partir voando feito um pássaro do ninho... Eu sou rosa com espinhos, disfarçada em cada cor...” Rosa negra feito a noite agora fala sozinha... Não há ninguém no salão... Rosa branca de luar envolta em belo vestido, dança a música sem par... Rosa em cores com espinhos que fere somente a si, sonha com outros ninhos... As rosas de um cabaré, que fechou faz muito tempo, perderam-se na passagem das vidas dessa viagem que chegou sem avisar... As paredes que eram festa, nas noites de sóis ardentes, agora, empalideceram... “Vestidos, águas de cheiro, pó de arroz, batom vermelho... E esses rolos nos cabelos que dão vazão aos delírios de quem chega acreditando que os cachos são verdadeiros... Tudo aqui é fantasia... Tudo aqui é uma ilusão!” “Meu sorriso no espelho não quer sorrir para mim... Meu sorriso entristeceu... Minhas lágrimas não mostro... Estão trancadas nas fontes muito além dos horizontes que escondem os sonhos tantos que nunca hão de ser meus... Já não escuto as vozes dos que chegavam cantando, por uma rosa chamando, com uma flor na lapela, com hálito de hortelã... A vitrola calou seu canto... As portas todas fechadas... Nas estradas imperfeitas, apagando solidões, fomos vendendo paixões com saudades inventadas...” “As cortinas perfumadas... Lençóis da seda mais cara... Pele, pétala madura... Suor banhando o encontro... Suspiros pros teus encantos... Lábios prum despertar... Mãos campeando mistérios enredados no compasso... Luz que se apaga no fim... Minha vida do avesso, ganhei e paguei o preço... Roubei eu mesma de mim...” “Onde estão os “coronéis”? A madrugada se vai e logo o dia amanhece... Os zumbidos me entontecem, eu quase perco a razão... Assim, são todos meus dias... Me sufoca a calmaria dessas brumas que escondem meu mundo intenso de dor... No cabaré das três rosas, restam vultos vacilantes que, às vezes, de olhar distante, pensam ter corpo e perfume... Se enfeitam todas as noites E deitam com seus queixumes... Elas pensam que é no vaso, sobre a mesa, ofuscada, que, um dia, serão “roubadas” independente da cor... E riem-se sem entender, que há muito deixaram de ser, do Cabaré, uma flor!!! Ao poeta das “rosas”, Apparício Silva Rillo