Não sei se foi de saída Lá na barranca da sanga Ou na boca da picada Onde o zaino se assombrara De um revoo de pelinchos. Talvez, fosse lá na estrada, Onde o trote já era firme Na direção do bolicho! No bolicho do povoado Eu apeei do zaino negro E minha mala de garupa Não estava entre os pelegos! E o que havia dentro dela Não estava mais comigo. Quem sentiu a dor da perda Vai entender o que digo! Numa mala de garupa Se carrega palha, fumo, Roupas e avios de mate. Até os forros do catre E outras coisas de consumo. Mas a minha era repleta Dos meus escritos de poeta, Versos simples e sentidos. Minha mala de garupa Carregava na verdade O resumo do que sou, A minha identidade. Quem sentiu a dor da perda Vai entender o que digo! Voltei pelo mesmo rastro, Revisei sangas e pasto, Fui à boca da picada, Trilhei a senda da estrada. Cansei o zaino buerana! Não encontrei minha mala! Voltei de pala no braço, Aba caída nos olhos, Alma faltando um pedaço! Quando se perde um pertence Se roga benevolência Daquele que o encontrou. Se pensa logo na perda Daquilo que se criou. Mal comparando, é um filho Que nunca mais abraçou! Quem encontrou os meus versos, Pra procurar pelo dono Não teria dificuldade, Pois quem lesse três ou quatro Encontraria no ato A minha identidade! Uns que falavam de domas, Outros de penas e dor, De carreteadas e tropas, Muitos falando de amor! E noticiei pelo pago, E prometi recompensa, E fiz promessa divina. Os meus versos, minha sina E meus sonhos de criança. Um que guardo na lembrança É o que fiz pra minha china! Recordo de um que falava De um negro cego e ginete, Outro por título “Brete”, Metáfora da cidade. Versos falando verdades, Buscando um mundo melhor. Que pena, não sei de cor, Um que o tema era a saudade! Busquei refazer meus versos, Procurei as mesmas rimas, E dos confins da alma Fui tirar inspiração. Ao som de bordões e primas Deste meu pinho chorão! Mas não, não houve jeito, O meu peito é só pesar, Me dói apenas pensar Perder parte de minha vida. Aquela mala perdida Levou dentro muitos sonhos, Rabiscos na mão de outros, Mas sonhos junto comigo. Quem sentiu a dor da perda Vai entender o que digo! E ao retornar à estrada No zaino, em marcha batida, Sem meu motivo de vida, Os meus sentidos poemas, Eu vou saboreando a pena De uma mala perdida! E a quem estiver com ela Eu peço com a emoção De um poeta que vos fala Em palavreado disperso. Me ouçam com o coração E podem ficar com a mala, Mas devolvam os meus versos!