A Maldição do Frederico

Francisco Carneiro Neto e José Mauro Ribeiro Nardes
                

Morfeu embala o sono, Dos que dormem nos galpões, Não pintou o arrebol, Paira um breu sobre os rincões. Sossegam as corujas, O cruzeiro ainda guia, Frederico salta cedo Pra “espichá” o tempo do dia. Frederico é desses peões, Que faz frente e é sinuelo, É tira-cismas de aporreado. É carrapato sobre o pelo. Ele sai quebrando gelo, Segue o rumo da tropilha. É o retrato do Rio Grande Na moldura da coxilha. O buçal contorna o ombro, Um dos bolsos leva a espigas, Que convence um dos cavalos Lhe levar ao fim da lida. Sentinela da fazenda, Teve um rancho quando moço. Depois veio para as casas, – Na tapera restou um poço. Vê a Deus como uma lenda, A coragem é seu seguro, Pra “esquentá” o sangue do potro, Sai galopar no escuro. Não sabia o veterano, Que o destino faz espera, Engoliu dono e cavalo, O tal poço da tapera. Ressoa o último ai, E o derradeiro relincho, Morreu mulato e cavalo, Num poço, que nem capincho. Lhe trouxeram pro galpão, Pra sua última sesteada, Até parece que descansa Pra seguir por outra estrada. Fios de sol invadem o rancho, Pelos furos da parede, Enfeitando o funeral. Fios que a alma tece a rede. Quem empunha a mão na alça, Carregando o funeral, Leva a escrita de uma história Para o endereço final. Negro de alma mal domada Não se dobra ao impropério Quem andou solto na vida, Não se embreta em cemitério. Toda noite na fazenda, Surge um lenço sem pescoço, Espanta gado e cavalo, Derruba dentro do poço. Num agosto, Mês de agouro. A poesia que era um canto Fecha a copla ao som do choro.