O campo que vive em mim é o mesmo dos meus avós, que por mais que a vida passe e a gente se vá embora ele permanece vivo pra sempre dentro de nós... Na imensidão dos varzedos, das canhadas e coxilhas, de trevos e maçanilhas, campeiro e campo se fundem como se fossem um só... Na construção do cenário que povoam as retinas de quem de lá tem saudades, os dias são um convite pra quem se vai bem montado levando um sol colorado na tez bronze amorenada que vem dar feições ao rosto de tempo e vento judiado. Os verões lá do meu pago, continuam tal aqueles que os antigos nos contavam... As noites mornas e longas de um céu salino de estrelas, de pirilampos nas várzeas tal qual estrelas de chão, contraponteando seus lumes com o farol da boieira e a magia do cruzeiro luzindo na imensidão. As manhãs quentes se erguem entrando meio dia adentro... chamando a hora da sesta, para o descanso dos velhos e a algazarra dos piás, que se vão rumbiando a sanga pelos fundões dos potreiros, inventando tantas artes que nem me toca contar. Os fumacentos outonos se achegam devagarito num semblante cor de sangue incendiando o sol se pôr... as folhas secas caídas formando um tapete pardo que olhando despercebido até fica a impressão que os dias não tem mais cor... Os pingos arr epiam pelos...as aves calam seus cantos... e somente as laranjeiras nos mostram toda a magia, com galhos amarelados, como a dizerem que a vida não perdeu o seu sabor. E o que dizer dos invernos? Aí, sim, para um campeiro a vida tem emoção... as manhãs vêm dar bom dia com várzeas brancas de geada... as rudes mãos calejadas vão acordando o galpão, acendem o fogo amigo para aquentar a cambona, depois cevam bem a cuia pra o doce amargo da vida... pois é sempre no inverno que o mate apura o gosto dando ânimo e coragem para empeçar a lida. Nas noites de aguaceiro e vento que gela a alma, uma guitarra se acorda pra contar velhos romances que se fizeram cantigas na voz de algum cantador... e causos varam as noites entre risadas e goles de uma canha temperada, da cabriúva plantada na volta do corredor. E as primaveras? Que sonho... Bueno pra falar de amor... As flores abrem as pétalas de coloridos perfumes como que se misturando com a moça da janela... e o coração do campeiro atropela as batidas qual o galope de um flete, que traz ânsias romanceiras num peito já pealado no verdor dos olhos dela. É bem assim lá no campo... Na verdade, sempre foi... Pois o campo é sempre o mesmo, quem muda, são os campeiros... na solidão dos potreiros há sempre um berro de boi... E a gente tem pouco tempo, pois o tempo não perdoa quem já nasceu com o destino de partir tempos depois. Quando a gente vai-se embora leva gravado cá dentro n’algum recanto perdido que a memória resguardou, as coisas mais importantes e os tempos mais felizes que nesta curta volteada a sorte nos reservou. É por isso que retorno com ares de despedida neste recanto onde a vida ainda é plena de luz e vejo as mesmas paisagens que sempre serão sagradas... pena que o tempo maleva mostrou-me o rumo da estrada pra eu carregar minha cruz. Nos cinamomos copados cantam as mesmas cigarras... Nos galpões enfumaçados choram as mesmas guitarras... A sanga ainda é a mesma... Mas a água, é feito o homem, que segue, não tem parada e vida afora se vai... leva somente recuerdos pois o tempo é um andante que cruza a trote o caminh