Liberdade

Matheus Costa
                

Este par de asas miúdas - gigante pra quem as sente - com destino diferente rompe lonjuras do tempo. ...No rumo que o próprio vento teimou em julgar pecado; Como desdita e malgrado, de tamanho sentimento. Tive a fé e tive o barro... ...na morada pacholenta. - Rancho que a terra sustenta, ante o sem fim destes anos - Dez luas... (livre o engano!) ...já vão-se, desde a partida da “barreirita” querida d’algum feitiço mundano. Eu que, outrora, milongueiro espantei mágoas do posto, cantando em tom de desgosto tremendas queixas doídas. ...Agora, de estada erguida n’outro moirão de alambrado... ...reparo a cruz passado pesar - à míngua - na vida. Ficou na morada antiga: algum sonho em claridade, que o destino, sem piedade, sulcou na conta dos dias. - E quando a manhã anuncia razões de um silêncio pleno, vejo o meu mundo pequeno co’a mesma grande valia. A quincha que foi ao chão depois de geada e tormenta, mais firme, se reinventa... ...e então, vem mostrar-me o dito; Que este meu canto bendito em lugar nenhum caberia: n’outro rancho - moradia - ou n’outro destino escrito. E a doninha, que, emplumada foi-se, de paixão, perdida; Por onde andará, na vida, se não penando o sentido d’um posto querer florido que lhe atiçava os trejeitos? ...Pois, em romance imperfeito, não volta o que foi perdido. Daqui, diviso as lonjuras, diante ao silêncio do nada. ...Ouço os segredos da estrada, e então, o choro do arreio de algum cruzador que veio penoso, no corredor; De atrás do rastro da flor depois de parar rodeio. Chora o arreio na estrada... ...não chora mais este canto. Já não existe o quebranto que fez-me João por metade. - Eu, cantador sem vaidade na melodia que abrigo; E ela, um poema antigo... ...escrito pela saudade. “...Sempre, em trabalho dobrado, segue o barreiro, rondando; ...Segue a ladina, esperando qualquer contrária intenção. Mas, muito embora, o rincão os una pela saudade, ser dono da liberdade já basta pra’o pobre João. Franca cicatriz fechada, de um pesar que pouco existe! - Barreiro que canta triste não vive de alma serena! Por isso, a sina terrena sempre traz um novo afago pra todo coração vago que o desamor envenena.” - Quando a fé, benzendo o peito, curou tamanha ferida, Meu rancho - borda caída - não cansou de retornar. ...E o feitiço do lugar espalha o canto que instigo, como o mais torvo castigo à quem desfaz de escutar. ...Tive o barro, bem postado, no rancherio de outra era, que findará por tapera, ruído pela verdade: - Para a “barreirita” é tarde desfazer rumos errantes; E eu creio, como o bastante: ser dono da liberdade!