Clã

Henrique Fernandes
                

Pra quem os olha sem tempo, vê que o tempo ali parou. Pra quem os vê com brandura... ...vê que o tempo nas molduras  também, ali, se quedou. Não mais que uns palmos de chão e uma infindável bravura em mãos fortes pra semear. Proletários campesinos  de essência guapa e teatina  que se ergueram na labuta  dando vida à terra bruta  no ciclo de pendoar. Ainda os lembro em preto e branco  com rudes feições de campo  na altivez dos semblantes. Austeros nas charlas e nos gestos, em ignotos dialetos  de sonhos vagos e distantes. São esses retratos que vejo  ostentando descendências  simplesmente pela estampa. Retentores da nobreza  da dinastia campeira, realengos da própria pampa. Linguagens toscas, mas puras... ...palavras duras, mas francas. Muito além de nossos olhos  esses que olhamos sem cor, nos alegaram o valor  alforriados da ganância. Cá nas plagas que nasci  e “adonde” fui forjado,  no singular elemento  que adentra o fio do arado... ...sacio a fome e a sede  na incisão alinhada  de ponta a ponta no pasto. É no seio deste solo  que a força da florescência  dos grãos que vingam alpedo respeita a coerência  dos ciclos das florações. Cá nas plagas que resojo  meu memorial campechano... ...templa rural e boerana, desbravada com as enxadas, com tropas e arreadores... ...pra sustentar os moirões  cravados antes de nós  e balizados nos rumos  de nosso progenitores. Figurantes transitórios na abreviatura do tempo. Arrieiros itinerantes da cepa  em cerne moldado. Avoenga massa empedrada  do barro argila das várzeas que nas cheias viraram banhado. É mais que o gene placentado  na terra negra dos bretes... ...transcrição patriarcal  de relevância ameríndia  mapeada nas dobraduras  da geografia pampeana. Brasão da têmpera índia codificada no couro de marca em brasa tatuada  na flor da pele com fogo. Sim... estes que falo! De crioulismo incrustado  no rumo incerto das tropas. Do clã beduíno oriental  de mouro sangue patrício na analogia charrua. É minha essência de pátria  miscigenada na alma  e transcendida no verbo. Razão que toca os sentidos, da simplicidade rural pela empáfia pastoril  de potreadas chimarronas mobralesca e ancestral. Mirada adentro sustento meu instinto primitivo, ante à visão que alicerça  os pilares do meu povo. Me decifro nesses quadros... ...imutáveis aos costumes e indiferentes no espaço... ...no casco ...no rastro ... na pedra A persistência de sermos... ... verticais e eruditos.