As aves carregam penas, Sem penas nalma levar; Carregam penas no corpo, Penas para voar. Os homens carregam penas, Sem penas no corpo ter; Carregam penas nalma, As penas do padecer. Por penas são carregadas As aves – leves, serenas; Os homens, porém, São carregados de penas. Há penas que rasgam no ar Os longes da vastidão; Há penas que rasgam na terra As fibras do coração. Há penas que, em duas asas - Folhas dum livro aberto - Escrevem poemas mil Nas curvas dum risco incerto. Porém, as penas que escrevem Nas linhas do coração, Parece que não são penas, Ou outras penas serão! São penas agudas, Penas que têm apenas A aguda, ferina ponta Das outras penas. As leves penas das aves Apagam logo os rabiscos, Que em giros traçam no ar; As penas do coração Tão fundos traços deixaram, Que a custo se apagarão. Aves, que tendes penas, Tende pena de quem, Embora não tenha penas, Penas, contudo, tem. Tão leves são vossas penas Nas curvas das revoadas: Nas curvas da vida As nossas penas são tão pesadas... Um choque brusco de asas Faz vossas penas cair E leves na brisa brincar; Os rudes choques da vida Dão-nos, c'as penas antigas, Novas pra carregar. Aves, que pena, Que as penas que temos nós, Não são as penas Que tendes vós! Mas, não vale a pena, Penas por penas trocar. Penas são sempre penas, Na terra e no ar. Tivesse eu, porém, vossas penas, - Não penas no coração - As penas eu trocaria, Em prova de gratidão. Todas as vossas penas Grato daria a quem, Junto c'as próprias penas Carrega as minhas também!