I Ali, permaneceu, arrinconado! Convalescendo imóvel, carcomido, esse recau que, ao tempo envelhecido, a ausência sentenciou ficar parado. Ali, permaneceu, inconformado! Buscou, junto ao galpão, algum sentido por não ser mais o arreio preferido pra encilha do seu dono e os seus mandados. Por curto não servia mais pra lida, tornava mais custosa a recorrida e coube a ele só o olhar fraterno… Embora fosse ruim com despedidas restou-lhe compreender - isso é da vida - não há amor algum que seja eterno. II No cavalete a nostalgia evade, mas há de despertar de um sono, lento, do qual vivia só e há muito tempo nas invernadas, cinzas, da saudade. No cavalete, agora, uma verdade já ressuscita com o próprio vento, pois chega no galpão, de olhar atento, um guri que observa a novidade. O pai ajusta o estribo, emocionado, e ergue o filho ao lombo do gateado, enquanto prende a lágrima no olhar… O arreio não traz olhos marejados por isso vai cinchar firme, entonado, pro suor ser sua forma de chorar! III Mas no futuro, em derradeira vez, irá pro campo em terna despedida e encontrará, no cavalete, a vida tornando-o inerte e sem função! Talvez algum bisneto, em sábia lucidez, quiçá terá a alma comovida e levará à casa sucedida das gerações que esse recau se fez um pago, andante, pela mesma estância rememorando o pátio e as distâncias, as invernadas e até o galpão… Enfim a pátria de duas infâncias há de ficar, em outra circunstância, no cavalete, por decoração!