Rubro

Otavio Lisboa
                

Meu sangue rubro - de tempo - na idade incerta dos anos, trouxe na mala do poncho restos de ventos pampeanos, e um par de olhos morenos pra enxergar neste plano. Cruzou caminhos distintos dos corredores da história; Depois das cargas de lança manchando o céu da memória, com sentimentos de guerra numa razão ilusória… Meu sangue rubro - do campo - recorredor sem demora, bateu estrivos solito (sentiu o peso das horas…) na secular plenitude de recontar as auroras. Andante destes caminhos, dos temporais e crescentes... Das secas de uma saudade, dos corações e enchentes; Além dos ventos - pulsando o ideal da minha gente - . Meu sangue rubro - de tropa - (fiador que não negaceia) feito rastro que se encontra por razões, talvez alheias, hoje encilha o que acredita enquanto o dia clareia. Depois de plantar virtudes na querência do passado, meu sangue rubro retorna com algum sonho guardado... Pra enfrentar os rigores - que lhe fizeram legado -. Muito antes foi carreta, Foi picana e céu de couro! Teve pedras onde andava, distâncias, peso de ouro, e palmos de crina grossa na franja de um pelo mouro… Meu sangue rubro - coragem - transcendeu outras virtudes, viu que o campo sempre fica por mais que a gente se mude! Sabe que a saudade bebe água barrenta de açude… Pingou num talho covarde, que nem se viu donde veio… Secou no Sol da Querência Por conhecer dos arreios! E vai cobrar quem lhe deve Nem que se parta no meio… Meu sangue rubro - tem nome - Esteio e identidade… Por vezes até não parece Mas sabe sim das verdades! Todas essas que escondidas, disfarçadas de humildade… Mesmo assim voltou ao tempo, viu que o próprio lhe queria… Talvez restasse uma era, Talvez faltava algum dia… Meu sangue voltou ao tempo Pra renascer em poesia.