Nestes pagos, nestes fundos,
Lá onde a alma revigora,
Encontro minhas raízes,
com singular cicatrizes
de campo, lida e de esporas.
E junto a ti, silencio,
Rincãozito de meu Deus,
Adonde o suor dos pingos
Respingam pelos domingos
Junto ao suor dos filhos teus.
E então assim, ressuscito
Com o barro e a corticeira,
Pois se um dia fui criança
Tive em ti a esperança
junto às tardes veraneiras.
Meu pingo então troca orelha
E o lambari corta a sanga
E eu sinto o cheiro do mato
E este campeiro extrato
De guabijus e pitangas.
E sigo ao tranco – pitando
Um resto de figueirilha
E uma coplita sonora
Faz contraponto às horas
E aos ventos desta coxilha.
Vacas, terneiros, ovelhas
Dividem o campo e o tempo
Enquanto eu volto pras casas
E a figueirilha nas brasas
Fumaceando o pensamento.
Fecho a porteira e me aparto,
Mas deixo ali minha essência,
poissei que o campo dosfundos
resume bem este mundo
que teimo em chamar Querência.
Querência, casa da gente
Donde para o coração
E a ampulheta da vida
Parece estar revertida
Correndo na contramão.
Pois voltamos à infância
Nos dias de um guri
E foi ali, nesta sanga,
Provando a doce pitanga
Que fisguei um lambari.
Corri ligeiro pra o pai
Para mostrar o meu feito
E o pai esboçou um sorriso
Desde então o que eu preciso
Cabe aqui, dentro do peito.
A simplicidade do mundo
Da vida e tudo enfim
Aquele campo dos fundos
Resume em um segundo
O que é importante pra mim.
Um dia retornarei
Para pisar em teu solo
Estarei bem de a cavalo
E ouvirá tudo o que eu falo
O filho que terei no colo.
Contarei deste meu tempo,
Das artes e dos meus sustos
E que um guri de campanha
Conhece todas as artimanhas
Dos petiços e dos cuscos.
Campos dos fundos,
Querência donde cresci,
Por mais que eu ande distante
Meu pensamento é constante
De regressar sempre a ti.
Assim como meu verso
Que ganha ares - distância
Quando vejo estou de volta
Com o estivo junto à bota
Nos campos largos da estância.
Lugarzito singular
De solo fértil – fecundo
Donde meu pensamento descansa
E sorve um mate, esperança
Mirando o campo dos fundos.