Sextinas de Noite Insone

Moisés Silveira de Menezes
                

Talvez deva ser tristeza, Uma força tão estranha Que põe estrelas na insônia E a alma quase sem rumo, A vaguear no breu da noite Na imensidão das lembranças. Viver é guardar lembranças Pra contrapor a tristeza, Que habita o vazio da noite, Tão parceira tão estranha, De fazer perder o rumo, No vazio que faz a insônia. Sem jamais dormir, a insônia, Um povoado de lembranças, Que sabe apontar o rumo, E sem nunca apor tristeza, Por vezes parece estranha, Por linda que seja a noite. Um campo imenso, a noite, Onde não dorme a insônia, E nem sempre é tão estranha. Mesmo um vazio de lembranças, Entre as flores da tristeza, Há um norte, e aponta um rumo. Viver requer ter um rumo, Por entre vultos a noite, Mesmo envolta na tristeza, Gestada em noite de insônia, Preenche velhas lembranças, Imagem que foi estranha. Aquela que foi estranha, Tem um norte, tem um rumo, Melífluas são as lembranças Que povoam essa noite. Se perde ao longe a insônia E rompe o véu da tristeza. Tristeza nem sempre é estranha, Se a insônia anda sem rumo, E a noite encampa lembranças. A noite emponcha ausências, Pelos bretes da saudade. Carrega as dores do mundo, Mas a vida é como a flor. Fenece inteira no outono. Renasce nas primavera. As flores na primavera, Divorciam das ausências. As folhas em pleno outono, Tem as cores da saudade. Quando renasce uma flor, Perfuma a vida e o mundo. O que se leva do mundo É uma eterna primavera. A vida é o campo em flor, Amaina dores, ausências, Mas florescem na saudade Todas as folhas do outono. A noite prenhe de outono Tem as angústias do mundo. Ninguém resiste a saudade Que invade a primavera. Dizem presente! As ausências, O vazio também é flor. Fica a imagem da flor, Pelos recuerdos do outono. Desvanescem as ausências, Pelos meandros do mundo. Um tempo que a primavera, Pode abrandar a saudade. Não perceber a saudade Ante a presença da flor. Um ardil da primavera, Para iludir o outono. Mas nas estradas do mundo, Andam fantasmas e ausências. As ausências são saudade, Que o mundo converte em flor, Flor de outono e primavera. OBS : A sextina é uma forma poética, de origem provençal, constituída por seis estâncias isométricas de seis versos e um terceto final, podendo os versos ser soltos ou rimados segundo um esquema em que se repetem nas outras estâncias, em posições diversas, as rimas da primeira estância Criada por Arnaut Daniel, no século XII, foi usada por alguns dos grandes poetas, como Dante, Petrarca, Camões, etc. No Brasil dela se utilizaram Jorge de Lima, Américo Jacó, Waldemar Lopes, Edmir Domingues, Dirceu Rabelo, Alvacir Raposo, Geraldino Brasil e outros. O poema em questão está composto por duas sextinas.