Hoje, logo cedo… antes mesmo do dia clarear, um beija-flor madrugueiro se achegou em meu ranchito já cansado de beijar... ...trazia asas cansadas e uma inquietude no olhar. Meu mate, de a muito lavado amargava as mesmas dores da pena dos beija flores que não cansam de voar. A mesma angústia… ...os mesmos sonhos. Me refleti em seu ninho compreendendo o passarinho, que solitário busca amar. Virei a erva de lado e amarguei um beijo amargo na extensão repentina de campo, céu e luar. Encarcerado ao resigno que delimita a palavra, restaurei a voz do vento bandeando rezas e cantos numa extensão povoeira que se aliena ao silêncio... ...o dia ainda amoitado na capoeira da noite, estendi ao passarinho meu mate de erva virada, amargo feito a saudade, com jujos de madrugada. Se parou sobre os arreios, que se quedavam invertidos num cavalete de angico, tal se abancasse num cepo para prosear com um amigo. Então o beija-flor abriu a mala do peito e me contou do seu jeito de cada um de seus amores. -Julgam que sou pequenino, que bato as asas ligeiras passando a vida estradeira semeando na flor meus carinhos. …- Que sina trago comigo, de passar a vida toda ofertando o melhor que tenho, sem receber nem cobrar nada em troca do meu beijo deixando apenas meus sonhos em cada flor que desejo. Minha primeira paixão foi uma rosa amarela, que nasceu em meio ao campo na costa do corredor. Trazia essência de vida e uma carência de amor. Logo que a vi, me encantei e por ela me apaixonei na premissa de seu sabor. Mas depois da primavera na troca da lua nova, suas pétalas murcharam e seus espinhos, me espinharam sem nem um beijo de adeus. Depois a flor da pitanga, que me encantou com a doçura e sua terna brandura junto ao costado da sanga. Foi intenso nosso caso, pois, todo o dia a beijava bebendo em seus lábios rubros toda doçura da flor. Mas ela também me deixou na seca forte de março quando seu tronco secou. Por anos a maçanilha me fez reviver um sonho que à muito andava perdido. Mas nosso amor foi ceifado na colheita do verão e a perdi do meu beijo na safra da solidão. E foram tantas frustrações, que a cada flor que beijava meu coração se apertava com ternura e compaixão. Lembro de uma florzita que além de meiga e bonita me jurou um amor eterno. mas logo depois do inverno também partiu a tulipa. Por isso chego cansado de não ser recompensado por nenhum dos meus amores. Alguns morreram no ciclo das perenes mutações, outras, simplesmente não vingaram com a semente em duras desilusões. De flor em flor cruzo a vida, trazendo em meu bico a doçura que doa sem receber, alentos mal compreendidos... ...e hoje enquadro a lembrança de todas flores que tive e por elas ser esquecido. - Compreendo bem, meu amigo todas as tuas agruras. Vivo no mesmo dilema porém o amor que me espora não aflora campo a fora como a florzita de açucena. Eu também peregrinei mendigando tanto amor, esmolando as migalhas sempre da mesma flor. E hoje, com tua visita, refolho o íntimo da alma pra suportar o que não tive, e as lutas de amor sincero onde doei-me por inteiro pra conquistar minha flor. Somos iguais nesta sina… ...de bater asa e voar. Tu voas de contra o vento e eu voo no sentimento na minha sina de amar.