O poeta tem na verve sua própria eucaristia, e em salmos de poesia benze a hóstia que recebe. Da nostalgia que bebe, no cálice da escrita, prova a palavra bendita salmodiada no seu canto; porque lê na folha em branco o evangelho que acredita… … Ali está a sentença para a cisma que carrega e as respostas que entrega para as perguntas que pensa. É a marca de nascença que o tempo não apagou, é a linha que lhe tocou de um antigo poema; é viver buscando o tema que ainda não se cantou… Nasce no verso que aflora, morre no verso que finda… e nessas idas e vindas sente que a vida lhe atora! Ao renascer nestas horas entende – mais uma vez – que seu brio e altivez estão na rima que intenta, pois sua alma se alimenta do verso que nunca fez… Mescla paisagens que adora no barro dos sentimentos, e com sonhos e lamentos vai modelando sua obra… O poeta tem auroras tapadas de cerração, que baixam do céu pro chão até serem dissipadas na poesia ensolarada que lhe racha o coração!… O pensamento, um relógio trabalhando incansável, no compasso irretocável atrás do próximo horário… Isso não é o calvário, isso é o que tranquiliza; porque escrever suaviza as penas da solidão, regulando a pulsação na métrica que precisa. Poeta é mesmo que andejo cruzando de pago em pago, saboreando o gosto amargo do seu estranho desejo de viver sempre no ensejo de campear a novidade; porque seu mundo, em verdade, está na eterna mudança de procurar nas andanças um motivo pras saudades… Seu caminho é inconstante e nunca tem paradeiro… Seu rumo ainda é o primeiro que se fez itinerante… E sempre anda distante dos campos de sombra e flor, já que não faz parador por ser fiel ao instinto, percorrendo o labirinto que há no seu interior… Haverá sempre um espinho ferindo a carne da ideia… Haverá – muito – odisseias nas sendas deste caminho, onde se cruza sozinho ouvindo seus desatinos para envidar o destino e enfrentar os escuros; atrás do verso mais puro que perdeu quando menino… Poeta tem essa sina e vive nesse dilema; sempre buscando outro tema, sempre campeando uma rima… A estrada nunca termina por mais que muito se ande, e mesmo que se abrande com algum verso bem feito, nunca lhe calam no peito as ânsias de ir adiante… Mas chegará o momento que haverá seu descanso, ao sentir o sopro manso na voz do último vento… Terá, enfim, o alento em ciclos de terra e luz e a obra lhe fará jus quando a voz do cantador, cantar seus versos em flor para enfeitar sua cruz!!!