A língua fina de ferro lambe a pedra, de arrasto, e molda o fio do machado num sonoro vai e vem. O arrepio de olhar além carrega o cheiro da morte, já que um aço de bom corte é arma na mão de alguém. E foram golpes e golpes e um tombo seco no chão, cair é a maior razão daquele que enfraquece, mas um cerno não merece deitar e findar ao tempo e ir morrendo por dentro na dureza que apodrece. Desgalhado no facão e o machado faz a trilha, deixa entonada a forquilha numa das pontas marcada. E o tronco leva a laçada, em meio ao mato faz frincha, se retorcendo na cincha de uma petiça retaca. Vem de arrasto pra mangueira, o corpo seco deitado e pra ser ressuscitado uma cova ali é casa. A sorte não tornou brasa, Reergue, assim num arranque, Cambará vira palanque e a forquilha suas asas. Renasce ali com a força, cravado sem ter raiz, como um eterno aprendiz a lapidar sua guarida. O que antes era partida agora é só o começo, pois todos pagamos preço dos descaminhos da vida. É peonaço de respeito, para toda precisão, no pealo escora o tirão do mocho preto pesado, ou vem de corpo riscado, a manotaço de casco, culpa de um potro picaço rebeldemente atado. Ganha a têmpera do tempo: chuva, geada e mormaceira e a terra fina da mangueira as vez é pó, noutras barro. Quando um teimoso ali amarro, mede forças palanqueado e o semblante calejado mostra o valor do trabalho. É solitário o Cambará, com a mangueira vazia, mas a singela magia vem dormitar nestes braços. É quando surge no espaço (que o fim de tarde clareia) apressada a lua cheia, ansiosa por um abraço. É um quadro, por momentos, do casal enamorado, para quem cuida de lado pede que o tempo não passe, pois é singelo o enlace, do Cambará braço aberto com a lua linda por perto, mimosa por quem lhe abrace. O mundo hay que girar e a lua é passageira, e tem sua sina viageira de alumiar noite escura, mas lá do alto procura soltar olhares brilhantes, pro Cambará seu amante que não entende a lonjura. A lonjura é coisa braba, a saudade mais ainda. parece o ruim que não finda e a espera é sempre um alento, pois amor e sofrimento se soltam, amadrinhados, dum palanque encravado na terra dos sentimentos. É triste viver parado, sem ganhar um corredor, na busca de algum amor só lhe resta o sonhar... Se pudesse andejar tal seu parente Rodrigo, um caminhante antigo, que também foi Cambará. E os peões vaqueanos da estância, são tais palanques fincados, nos mangueirões do passado vivem presos de histórias. No corredor da memória trazem causos bem contados, de amores mal domados e prendas que foram embora. O Cambará romanceiro cruza o tempo ali parado, tal fosse petrificado num quadro de tempo outro. É um campeiro absorto, onde a inquietude flutua, vive entre beijos de lua e manotaços de potro. Segue entonado, buerana, perfil de fibra, fortacho, com seu semblante de macho o serviçal do rincão. Pois esta é a maior razão: -Trabalhar a vida inteira-. Corpo duro de tronqueira, mas mole do coração.