Um bom dia morno Que se faz suplício, Serve um mate frio Que à mão alcança... Caminho sem retorno, Espinhoso precipício... Num tímido desvario O amor se cansa! Um punhal certeiro Aborta o seu sorriso: Palavra dura e seca Que a insensatez desfere! Tão triste e verdadeiro, Quanto impreciso, Na boca que emudece O amor se fere! Sentir em desalinho Que a face denuncia, Ao bater da porta Sangram as entranhas... E ao ver-se sozinho, Sem pouso e moradia, Descrê no que importa E o amor se estranha! No olhar sem brilho O silêncio é pedra! A consciência é muda Se a razão não fala! Vagão fora dos trilhos, Tristeza que medra... Imerso em dor profunda O amor se cala! E pelas horas frias Desse mundo intenso, Desnuda o sentimento Que a ilusão aquece... Realidade ou fantasia? - tudo à volta é tenso - No abrupto momento O amor se enfraquece! Tão próximo e distante, Aquém do que deseja... A tarde é tão cinzenta Que o sabiá nem canta! Viver não é o bastante - É menos do que almeja... É forte, mas não aguenta: O amor se desencanta! Tentando adoçar o fim, Amarga os desenganos... Sem chances de defesa, Ah, solidão nefasta! A vida é mesmo assim, Às vezes, muda os planos... Um bilhete sobre a mesa E o amor se afasta! Não mais se reconhece Perdido em memórias... Não é sombra do que era E essa verdade fustiga! Por que isso acontece? O que mudou a história? Numa imersão sincera O amor se castiga! Angustiado pelas ruas Tropeça e vaga a esmo... Há cismas de outono Na perfeição que cai! Sua alma exposta - nua - Jamais será o mesmo... Refém do abandono, O amor se esvai! No tempo que urge, Toda a vida escorre... E no ocaso dos dias, Ninguém o socorre! Por tudo que se insurge, Por todo o mal que ocorre, Sem ter fé na poesia, Por fim, o amor morre!