Batará, galo entonado, não floxas nem no lançante,
Porque nasceste cercado por uma cepa maior;
Batará, plumagem buena, um taura que se garante,
Mas ninguém vê em teu semblante o que tens em sangue e suor.
Não eras pra ser de briga, mesmo tendo garbo e porte,
Mas enfrentas até a morte se ela quiser te peitar;
A coragem de um gigante, o teu bico de bom corte,
E a luz radiante da sorte te amadrinhando no ar.
Tua plumagem salpicada é testemunha da vida,
Onde a tela é colorida por vários tipos de cor;
Assim é a vida selvagem de quem não nega a corrida
E só se dá por vencido no rinhedeiro do amor.
Eu também sou Batará, salpicado pela vida,
Em cada estrada comprida, nas tantas encruzilhadas;
Tenho meu couro pintado de brasa, corte e fumaça,
Além das tantas desgraças que superei na jornada.
O mundo atraca seus golpes, seu bico é feito de aço,
E eu não desvio dos puaços, pois quem me guarda é supremo;
Enfrento aquilo que temo, pra mim é a grande coragem,
Encarar com hombridade os temporais mais extremos!
Nem sempre os rumos são certos, nem sempre atalhos são buenos,
O mundo entrega venenos que nem sabemos que existem;
Mas nossos brios resistem, persistem, nunca se entregam,
Mesmo quando os olhos cegam frente aos silêncios mais tristes.
O teu instinto, galito, é meu instinto também,
Pois não é mal, não é bem, é somente a natureza;
O mundo, com sua fereza, nos tenteia, nos afronta,
E então trocamos de ponta, peleando em própria defesa.
Eu acredito na luta, enfrento a boa batalha,
Mas não semeio mortalhas, campeio sol pelo breu;
Eu creio que amanheceu um mundo mais pleno e puro
E até o rincão mais escuro clareia aos olhos de Deus!
Então te peço, galito, recolhamos nossas puas,
Pra tantas almas tão cruas, que só precisam de luz;
Vamos usar a coragem contra o mal, que desvirtua,
Pilchando as causas mais puras de quem nos mira da cruz.
Sou Batará, meu galito, sou que nem tu, sou valente,
Mas acredito na gente que planta amor no que faz;
Não precisamos de puas pra construir nosso tempo....
Mas se a vida é um rinhedeiro eu pelearei pela paz!