N’outro tempo fora estância o que ficou por tapera neste fundão de invernada... Restara um capão de mato sem fazer sombra pra nada e um moirão, apodrecido, jogado à beira da aguada, nos mostrando que as fronteiras dessas estâncias, lindeiras, são frágeis e delicadas! A cada cair de tarde o passaredo emudece... O ocaso é o fio do novelo da trama que o tempo tece. Não há ninguém por testigo e destes fundões antigos somente o sol não esquece! Junto do pasto nativo, cresceram ervas daninhas, pois tudo o que não se cuida na vida já se definha. Naquele campo nasceram sonhos que não floresceram por não andarem na linha! Perto da sede, um retrato do tempo paralisado e o alicerce das casas, ruindo aos ventos, calado! A mangueira só encerra mistos de barro e de terra e os recuerdos do passado! N’outro tempo fora estância... Em sua eterna altivez De ser campo e ser querência Sem se importar com talvez, O tempo fez seus tordilhos Não nasceram mais potrilhos Semeando a escassez. Então me digas, tapera, Se és curiosa como eu sou... Quais os ventos que te habitam Neste amanhã que chegou? Quais respostas tu procuras Como a frutita madura Que nunca ninguém roubou... Como contar das manhãs Bonitas do nosso pago, Sem encilhas dos campeiros No mais silencioso estrago? Como contar das mangueiras Sem as formas madrugueiras, Neste sentir tão amargo... ...e a hora do meio dia Donde descansa a peonada, Depois da boia simplita Mas que garante a pegada, Como que fica esta hora? Por certo é feito a espora Que nunca mais foi atada. Hoje voltei ao teu mundo Pra recorrer as quimeras, Vim encontrar o meu tempo Vim encontrar quem eu era, Da sede ao embarcador Eu compreendi minha dor Pois também virei tapera... N’outro tempo fora estância o que ficou por tapera nesses fundões de invernada! Passaram as primaveras e eu que era estância mudei… As saudades que arrendei recuperar quem me dera! Aperto a cincha e alço a perna Ainda há chão pra pisar, Serei de novo querência Serás de novo o meu lar, A vida tem suas estradas E nunca é fim de jornada Pra quem tem pra onde voltar! N’outro tempo fui estância, mas fui tapera também!! Hoje alicerço o meu mundo, Com a força que me mantém. O campo trouxe o relato que o tempo ajuda de fato quem sabe dizer amém!