Quando me paro a pensar, na vida e suas entrelinhas, nos credos, nas ladainhas e juras frente ao altar, me pego a imaginar as promessas não cumpridas, as verdades esquecidas nas ondas do fingimento; a vaidade e o tormento, das esperanças perdidas. Como dizia Caetano, no seu dom pajadoresco: “Não há fi gura ou afresco que defina o ser humano”. Entra ano e passa ano, e a injustiça prevalece. Enquanto tudo acontece, terminam-se os ideais: quem bate não lembra mais, quem apanha não esquece. Neste mundo em que vivemos, campeia a indiferença, a ausência da presença, por vezes não percebemos; do irmão nos esquecemos, correndo pela riqueza. Por orgulho e avareza, o homem fica insensível, tornando até invisível quem tem pouco pão na mesa. Em nome da dualidade, a mão cega da Justiça expõe na mesma treliça, a mentira e a verdade. Aos olhos da sociedade, a seleção natural. Na luta do bem e o mal, o inocente é que perece, e o conceito favorece um poder individual. Talvez a pior pandemia da nossa célula mater, seja a falta de caráter, por detrás da alegoria. Transforma em mercadoria o amor dos seus amores; tudo em troca de favores ou à custa de vantagem, como rito de passagem, sem dar valor aos valores. Um inimigo sem rosto colocou o mundo à prova; a realidade comprova, na tristeza e no desgosto. Independente de posto, a vida fica num fio e aquilo que ninguém viu deixa seu rastro de morte, tornando de sul a norte, um eterno desafio. A realidade escancara tudo aquilo que sentimos; é hora de nos unirmos e preparar a coivara. Da cerca que nos separa, vamos cortar os arames, procurar outros ditames de carinho e compreensão, de bom senso e compaixão, seguindo novos liames. Assumindo a pequenez, mais força, o homem adquire, e não há quem lhe retire o valor e a altivez. Então é chegada a vez de ajudar quem necessita; sentir que a vida é bonita, vale a pena ser vivida. Na esperança devolvida, um coração que palpita. Cruzando essa tempestade é preciso agradecer, este novo renascer, num grito de liberdade. Despojado da vaidade, unidos num só motivo; o amor, por lenitivo dos males, sem sobressalto, podendo cantar bem alto a alegria de estar vivo!!!