Quando me paro a pensar,
na vida e suas entrelinhas,
nos credos, nas ladainhas
e juras frente ao altar,
me pego a imaginar
as promessas não cumpridas,
as verdades esquecidas
nas ondas do fingimento;
a vaidade e o tormento,
das esperanças perdidas.
Como dizia Caetano,
no seu dom pajadoresco:
“Não há fi gura ou afresco
que defina o ser humano”.
Entra ano e passa ano,
e a injustiça prevalece.
Enquanto tudo acontece,
terminam-se os ideais:
quem bate não lembra mais,
quem apanha não esquece.
Neste mundo em que vivemos,
campeia a indiferença,
a ausência da presença,
por vezes não percebemos;
do irmão nos esquecemos,
correndo pela riqueza.
Por orgulho e avareza,
o homem fica insensível,
tornando até invisível
quem tem pouco pão na mesa.
Em nome da dualidade,
a mão cega da Justiça
expõe na mesma treliça,
a mentira e a verdade.
Aos olhos da sociedade,
a seleção natural.
Na luta do bem e o mal,
o inocente é que perece,
e o conceito favorece
um poder individual.
Talvez a pior pandemia
da nossa célula mater,
seja a falta de caráter,
por detrás da alegoria.
Transforma em mercadoria
o amor dos seus amores;
tudo em troca de favores
ou à custa de vantagem,
como rito de passagem,
sem dar valor aos valores.
Um inimigo sem rosto
colocou o mundo à prova;
a realidade comprova,
na tristeza e no desgosto.
Independente de posto,
a vida fica num fio
e aquilo que ninguém viu
deixa seu rastro de morte,
tornando de sul a norte,
um eterno desafio.
A realidade escancara
tudo aquilo que sentimos;
é hora de nos unirmos
e preparar a coivara.
Da cerca que nos separa,
vamos cortar os arames,
procurar outros ditames
de carinho e compreensão,
de bom senso e compaixão,
seguindo novos liames.
Assumindo a pequenez,
mais força, o homem adquire,
e não há quem lhe retire
o valor e a altivez.
Então é chegada a vez
de ajudar quem necessita;
sentir que a vida é bonita,
vale a pena ser vivida.
Na esperança devolvida,
um coração que palpita.
Cruzando essa tempestade
é preciso agradecer,
este novo renascer,
num grito de liberdade.
Despojado da vaidade,
unidos num só motivo;
o amor, por lenitivo
dos males, sem sobressalto,
podendo cantar bem alto
a alegria de estar vivo!!!