Tendo o verso como arreio, Vou fazendo pastoreio No manancial da memória. E ao repisar as lonjuras, Vejo lutas e bravuras, Na transição de uma história. No mundo, tudo se altera, Nada fica como era, A vida é transformação. Tudo o que existe é passível; Palpável ou invisível, Sofre alguma transição. O assunto que me atenho, Vem dos veios d’onde venho, Razão do meu argumento. O caminho dessa história, É uma longa trajetória, Do Rio Grande em movimento. Aqui na terra sulina, Veio um povo de batina, Com cargo de conselheiro. A missão logo se expande; É por isso que o Rio Grande Tem o cerne missioneiro. Quem caminha deixa rastro, Começou no povo casto, Pra outro seguir depois; Quando vieram carreteadas, Costurando as invernadas, Com rastros de roda e bois. E as cambotas das carretas, Foram abrindo sarjetas, No rumo das charquearias. As tropas e cavalgadas, Também abriram estradas; Bem antes das rodovias. A evolução modifica, E a história quando transita, Traz outro perfil campeiro. Asfaltaram as estradas; Já não existem charqueadas, Nem ofício de tropeiro. Quem transita muda o passo, E a transição é o espaço Entre primeiro e segundo. É momento indefinido; Como quem anda perdido Entre as coisas de dois mundos. Por conta do modernismo, Foi mudando o gauchismo, E a transição ganhou asas. Nesta mudança de vida, Aquilo que era da lida, Virou relíquia nas casas. Hoje, rodas de carretas, Que andaram sobre rosetas, Pelos confins dos rincões, Deixaram de ser rodados; São ornamentos sagrados, Em porteiras e galpões. Transição é uma passagem, Que vai do medo à coragem, Entre o silêncio e a espada. Em tudo aquilo que escalo, Transição é o intervalo Entre dois degraus da escada. Assim caminha esta pampa, Mostrando uma nova estampa, Como obra em construção; Honrando o valor caudilho, Que passa de pai pra filho, No Rio Grande em transição.