(A Guitarra) Enverguei em vento a madeira ... plantei sons nos temporais. E depois de andar caminhos Fui pássaro voltando ao ninho Do berço dos meus ancestrais. Enfeitei noites de lua sem luz ... cruzei os invernos gelados. Sem o calor da lã do teu pala Fui silêncios no canto da sala Pra voltar ao destino traçado. Sou guitarra... mais que som e madeira A minha fronteira vai além do abstrato Sou a alma que verte o calor do abraço E a beleza do traço do poema em retrato Enraizei-me em terra fecunda ... bebi a seiva pura do solo. Vivi para saber as tuas dores Fui amor tocando os amores Sempre que me tiveste no colo. Herdei sentimentos guardados ... abri sulcos nas rugas do rosto. E por saber tanta coisa de nós Aprisionei os sons da tua voz Quando a lágrima mudou o gosto. Sou guitarra... ser vivo em tua vida E minhas feridas não têm cicatrizes Sou tela em branco vestindo madeira Árvore inteira de profundas raízes. Voltei pra ser luz que alumbra ... encher de cores a casa. E sem me perder no caminho Ser pássaro que voa do ninho E em canto abre as suas asas. Deixei no escuro o passado ... curei todos meus medos. E no teu colo - meu dono Sou rainha que volta ao trono Pra ouvir todos teus segredos Sou guitarra... ser mais não preciso Trago sorrisos para acalmar o pranto Sou a vida que volta renovada em arte Me basta ser parte do som do teu canto (O Artista) Perdoa guitarra... esse dom de artista Ao traçar tuas curvas de som e madeira Perdoa guitarra... o tempo que passa E hoje por graça te entrego linda e inteira. Perdoa guitarra... te acordar do teu sono Rainha terás trono pra ouvir teus arpejos Perdoa guitarra... mas a leveza do traço Será calor de abraço e doçura de beijo! Guitarra do tempo antigo ... te entrego tão divina Se Deus me deu a sina De sonhar junto contigo Minha arte será teu abrigo Pra o frio terás som e calor ... e assim viverás sem dor Pelas noites de céu claro E nesses versos - declaro: Guitarra... todo meu amor!