Quem nunca viu Dom Altair Cruzando por estas estradas Farejando o pó das tropilhas Ou de tropas repontadas. Dom Altair de alma leve E de romances com a lua Deixando pra noite xirua Olhar preso na imagem do nada! Trazia visões no coração A devanear pelas madrugadas, Sabia segredos das estradas E os sabores da solidão... Criou no campo dos sonhos Miles de bois estrelados, E uma tropilha de gateados Pros arreios da imaginação. Mais pó, mais uma estrada... Mais um dia de caminhada... Sempre curto nas palavras Assobiava mais uma milonga E seguia seu rumo… sem rumo. Um trago, um naco de fumo Davam força e tenência, Pra quem nem pensava em chegar... Pois seu destino… era lugar nenhum! A noite caía aos poucos, E igual a outros loucos, Entre um trago e outro Juntava um eito de sonhos E botava na mesma mangueira, Pois sua imaginação da fronteira Peleava, e sem mover o braço, Afundava uma esquadra inteira. O catre ao lado das cruzes Protegido por quem partiu, Quem sabe andarilhos iguais Que um compadecido enterrou, Sem saber porque o companheiro Foi e não se despediu... Ali… dois andarilhos Um vivo... Um morto Um iluminado pelo outro E livres iguais os potros, Donos da lua, da terra e do campo vazio. Silêncio... Ah! O silêncio... Quebrado apenas pelos grilos Que puxavam um estribilho, Pras coisas vindas do céu Espiar a lua com seu véu, E seu romance mais lindo. Outra vez aquele encanto Com tanta beleza e acalanto, Vindo de tantas estrelas E daquela lua “sorrindo”... Naquela madrugada, descansou! Somou-se uma cruz ao lado da outra Descansou à beira da estrada Que foi a única morada Do loco, do andante, do Altair. Ali uma história comum findou Ultimo véu de imaginação Ali se foi um andante, Uma lua viúva chorou... Quedou-se na noite o acalanto Talvez prenunciando sua chegada A lua vestiu o véu da madrugada. Se foi milongueando só, No compasso do seu canto, De encontro com a tropa de estrelas - que sua mente criou – Pois andavam meio dispersas Que nem sempre podia vê-las. Fez da partida um ponto de chegada, Da sestiada, fez um lugar pra ficar, No seu ocaso a sua alegria, E o seu reencontro com a amada. Quem nunca teve rumo Naquela hora, tinha dois Só ele é que não entendia. Pra alma um céu inteiro E para a carcaça a sesmaria.