Há Tempos é Assim

Roberto Paines Nunes
                

Floreando a barbela, “tiflando” uma copla - que há tempos é a mesma... Estampa “grongueira”, jeitão de fronteira, me vou... trote lento. Ao tranco do mouro, que há tempos me leva, repasso pegadas; as mesmas estradas, antigos caminhos  – ganhando o sustento.   Mirando distante, bombeio horizontes que há tempos são rumos! Um velho “aba-larga” e um poncho pampeiro pra enfrentar tormenta. Forjando o destino, viver campesino, vou domando anseios, E há tempos bem sei, que a carga vem sempre pr´aquele que aguenta.   Por isso que há tempos ajusto “os apero” e calço  as esporas Pra ver as auroras despertando os campos por estas lonjuras. Talvez teimosia ou por ver sentido nas coisas do antigo... E penso o destino como algo que nasce com a criatura.   O campo é o mesmo e há tempos que o homem lhe sabe por vida A terra é sustento e a planta, o rebento pelas semeaduras. E qual um romance de homem e campo produzindo frutos Florescendo os sonhos das mãos dessa ente em cada cultura.   Mas ando no lombo do “mourito pampa” – repisando rastros... E como há tempos me leva, o tranco não é mais o mesmo, Assim como o campo que guardei viçoso em minhas retinas Carece cuidado, clamando guarida, largado a esmo. O taura mais velho, avô campesino, em sua ciência Mirando a querência de algum galpãozito num fundo de campo Há tempos reflete em meio à fumaça de um palheiro em brasa Que a querência é casa que se mal cuidada vai perder o encanto.   Há tempos é assim: mais sabe o antigo por tempo e por tino. Não erra o rumo quem timbrou seu rastro nos tantos caminhos. A vida é colheita daquilo que ao longo do tempo se planta Então é melhor semear a bondade pra colher carinho! Sim - ainda resistem - antigos costumes por essas estâncias! E homens de campo com sangue nos olhos seguindo o ofício. Mostrando ao novo um rito que há tempos não perde o sentido É um xucro legado peleando para o campo não perder o viço.   Mangrulhos campeiros, postais destes campos, demarcando eras, Que berros de touro, relinchos de potros e cantos de bastos Não são utopia aos que saltam cedo num trono de arreio Monarcas campeiros, há tempos vivendo entre céu e pasto!   De viver humilde, são xucros na essência, mas de alma branca, Há tempos ensinam que honra e respeito é que forja o caráter E trançando a vida na simplicidade da rotina rude Tem dignidade para erguer a cabeça quando alcança um mate.   Há tempos é assim: o certo é o certo e o resto não soma na tarca da vida… E cada escolha vai ter consequência! O pago é o mesmo, e quem dele vive, por certo que cuida, Plantado no chão, de qualquer rincão vai fazer querência! Uma prosa buena, um mate cevado, um resto de tarde... Há tempos que volto para um mesmo rancho num final de mundo. Mas sei o que dizem as vozes do campo e entendo o sentido De um viver humilde, mas com a certeza que lá tenho tudo! Me “gusta” o sorriso da mulher parceira quando chego às casas Que lá da janela, tal qual em moldura, me acena e sorri Então nessa hora, há tempos, eu quero é saltar dos arreios Ter lágrima aos olhos, abraçando ela e o meu guri! Enfim… a razão de não desistir e manter o tino, E encilhar o mouro, há tempos ganhando distâncias de campo! Mesmo que a “plata” por vezes não sobre pra tudo que quero O pouco que tenho ganhei com suor e pra mim vale tanto! Então, alma inteira, vou trançando a vida a cada manhã, Juntando os tentos que as loncas do ofício alcançam pra mim. Num fundo de campo, encilho cavalos e calço as esporas Despertando auroras, irmão das estradas, e há tempos é assim!