Apelo

José Luiz dos Santos
                

O Tempo, Senhor da Vida, fala e não manda recado; traz um segredo guardado, que tem chegada e saída. Um taura enxerga na lida o campo, seu universo, Ao deslumbre do progresso, comete algum desatino, esquece que o próprio ensino, mostra o amargo regresso. As veias dilaceradas, do rio que morre, silente; como um lamento, dolente, sem o brilho das aguadas. Sob o fogo das queimadas, as matas vão fenecendo. Os homens vão se perdendo, mergulhados no orgulho, sem escutar o barulho, da natureza morrendo. O ar tisnado de breu, de picumã e fumaça; feitio de névoa, que enlaça tudo aquilo que perdeu. A fauna que pereceu pra vida não volta mais. Quem não escuta os sinais só diz que o tempo está louco, em verdade, entende pouco a lição dos ancestrais. A ganância e o poder tomaram conta da mente; na mostra que nossa gente, perdeu a noção do “ser”. Depois da porta romper, de nada serve a aldraba. Parece que o mundo acaba em raios e furacões, co’a intrepidez dos vulcões, sob a fúria que desaba. Na raia da intolerância, vem o teste nuclear, as geleiras, desabar num rugido em ressonância. O “Poder” não sente a ânsia do mundo andando pra trás; e aquele que o estrago faz, consciente de tudo zomba, fazendo explodir a bomba que mata, em nome da paz. A mão do desmatamento é a mesma que embala o berço; de que vale rezar “terço”, se não há convencimento? O que vem no pensamento num tempo “que range os dentes” são ações inconsequentes mostrando triste pesar: que herança vamos deixar para nossos descendentes? O Tempo cobra seu preço, a natureza se vinga; num peito que choraminga, um mundo sem adereço. Para um novo recomeço, é preciso ter tutano; dar valor ao ser humano, respeitar quem não tem voz; e o que Deus deixou pra nós, em nosso viver profano. Não quero que este meu canto se transforme em utopia; mas que seja poesia, num sopro, como acalanto. No apelo que levanto, há de findar os horrores, para buscar os valores que estão adormecidos. Na consciência dos sentidos, vão rebrotar os amores.